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Foto do escritorDuarte Dionísio

Reverent Tales – “Visceral”

Atualizado: 28 de jan. de 2021

Criaturas viscerais

Reverent Tales – “Visceral”

Lançamento: 2020

Sonoridade: Alternative Metal, Progressive Metal, Melodic Death Metal

Editora: Amazing Records, AR004

Produção: Fernando Matias e Reverent Tales

Capa: João Diogo

Formato: CD (audição em streaming)


Lista de músicas:

1 - Above me

2 - Era of Witches

3 - Visions of Carnage

4 - Enclosure

5 - A Strange Revelation

6 - Blackened Slumber

7 - Empty Wonder Rivers

8 - Creature


O surgimento de bandas novas dentro do género Heavy Metal e seus subgéneros é deveras positivo. Assim acontece com os Reverent Tales, apesar de não serem adolescentes, o projeto é recente e fresco. “Visceral” é o álbum de estreia com oito pedaços de entranhas sonoras. É evidente a interioridade exposta nas composições, assim como nas líricas. Como se cada nota, harmonia ou pedaço da estrutura musical fosse dissecada atá à exaustão num laboratório, passando por processos químicos antes de ser finalizada e comercializada. O resultado é um álbum arrumado, que apesar de ter estruturas compartimentadas em algumas músicas, aparenta intencionalidade. Acima de tudo sente-se a preocupação visceral em fazer bem. O contexto lírico também transpira profundidade. Embora abstrato e sujeito a interpretações pessoais, não esconde os pensamentos intrínsecos da própria existência. Mesmo com alusões demoníacas ou ritualísticas, a escrita de Raquel Nunes liberta algumas reflexões obscuras do ser humano, talvez dela própria.


Toda a vertente criativa de “Visceral” assenta em ritmos bem definidos, arriscando partes mais aceleradas como em “Enclosure” ou “Blackened Slumber”. O balanço rítmico segue a linha da ponderação mid-tempo, com riffs elegantes e delineados, onde cada acorde cria entrosamento equilibrado com uma bateria coesa. O mesmo acontece com o baixo, que assume o papel de amarra, mas por vezes sobressai como em “Strange Revelation”, onde soa particularmente interessante. O som dos teclados contribui para um certo mistério ambiental ou causando feridas na estrutura musical, com devaneios eletrónicos, como em “Visions of Carnage”, este um tema direto e com um verso que se perpetua na memória auditiva – “Cast me out…”. A abanar a teia instrumental, tecida pelos músicos, entra a voz com a sua dicotomia de abordagens. O sanguinário clamor gutural e a ondulante melodia cantada. Como uma víbora na sua postura hipnotizante, a vocalista utiliza o seu timbre mais cativante para nos devorar de seguida, sem contemplações. Conjugando todas estas características, a banda procura encontrar o seu caminho neste mapa do Heavy Metal. Alguns pedaços da composição tentam trazer à tona um feeling mais progressivo, com contratempos (“Era Of Witches”), acordes dissonantes (“Strange Revelation”). Por outro lado, os riffs pesados e a voz gutural entram na zona do Death Metal. E ainda alguns momentos de maior descontração, onde os acordes se soltam e a música flui sem amarras, sente-se a aproximação de aldeias sonoras mais alternativas. Tudo é bem percetível, porque as músicas respiram, a produção parece ter sido uma boa garrafa de oxigénio. Aqui também começa a ser notória uma tendência sonora vinda dos estúdios The Pentagon Audio Manufacturer, com Fernando Matias aos comandos. Este longa duração necessita ser ouvida repetidamente. Por isso, quando o voltar a ouvir amanhã ou daqui a um mês, talvez descubra mais recantos espirituais.


“Visceral” é um álbum de início de carreira feito com empenho e trabalho. Os músicos criaram uma peça que se fecha em si própria, de arestas limadas. É uma obra muito clean, apesar do peso, talvez necessitasse de maior loucura e mais aventura. A capacidade de arrumar as estruturas das músicas pode muito bem ser aplicada em arranjos que tornem as músicas ainda mais cativantes. Daquelas que nos invadem para sempre. A sonoridade deste primeiro lançamento é consentânea com a imagem da banda, muito sóbria. Os ingredientes estão lá, falta criar mais ondas de choque visual e emocional para juntar ao talento, às vísceras e à víbora. Cast me out of your spiral!


Foto: Tiago Estima


Músicos (da esquerda para a direita)

Carlos Matos - Bateria

António Freitas - Baixo

Raquel Nunes - Voz

Nuno Pereira - Guitarras

Pedro Bendada - Teclados



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