Vulcão que expele pensamentos
Buried by Lava – “Blind Truth"
Lançamento: 2020
Sonoridade: Metalcore, Nu Metal, Crossover
Editora: Edição de autor
Produção: Buried By Lava e Zé Miranda
Capa: Xavier Ramos
Formato: Digital e CDr (audição em MP3)
Lista de músicas:
1 - Spiritual Awakening
2 - Gods Of Sand
3 - Blind Truth
4 - Rise Up
5 - Inertia
6 - Mental Decay
7 - Till Death Do Us Apart
Com pouco mais de três anos de existência, os Buried By Lava entraram em erupção com o EP “Blind Truth“. O vulcão do Nordeste de São Miguel, nos Açores, expeliu lava com uma explosão de Metalcore enérgico. O EP é uma edição de autor, assim como uma produção caseira, com recursos limitados, sem beneficiar dos meios técnicos de um estúdio profissional. O que se nota em alguns detalhes, mas sem prejudicar o essencial. Também não seria fácil fazer melhor, tendo em conta a distância que separa o vocalista Steven Medeiros dos restantes elementos. Já que a banda é de São Miguel, mas o homem dos gritos vive na Suiça. Essa circunstância não impediu a realização das gravações através das tecnologias que permitem captar e editar os sons em casa. Basta haver disciplina e planeamento para que tudo aconteça. No fim, um amigo da banda (Zé Miranda) fez a mistura e masterização finais e assim “Blind Truth” pôde ser lançado para as plataformas digitais de todo o mundo. Talvez por causa da beleza natural das ilhas do arquipélago dos Açores, sinto sempre um carinho especial pelos projetos insulares. Talvez sejam as saudades de passear pelos caminhos verdejantes, observar o Atlântico enquanto se vai degustando um peixe grelhado, sem pressas. Enfim, o arquipélago dos Açores é um conjunto de joias naturais que emana uma luz especial e de onde surgem talentos inatos. Obrigado ao Mário Lino Faria por nos apresentar o que se faz no universo Heavy Metal nas ilhas Açorianas, através do seu recente projeto “Museu do Heavy Metal Açoriano” (https://www.facebook.com/museuheavymetalacoriano).
A sonoridade dos Bured By Lava traça um Crossover entre o Metal e o Hardcore, com alguns elementos de Nu Metal. O que coloca a banda na crescente vaga de bandas a praticar Metalcore. Tudo começa com o instrumental “Spiritual Awakening”, cujo título procura despertar a consciência das pessoas, num resgate da mente. O contexto lírico do EP apela ao entendimento, num confronto com a ignorância. No fundo, apenas pretende que cada ser humano pense por si e lute pelos seus pares, não se deixando soterrar pela lava dos interesses religiosos e políticos. É evidente que as composições foram pensadas e trabalhadas ao pormenor. Basta ouvir com atenção a construção das estruturas musicais, onde os arranjos tiveram um papel fundamental. O melhor exemplo é talvez o segundo tema “Gods Of Sand” com um refrão apelativo, em que a vocalização cantada e limpa contrasta com a agressividade e screaming dos restantes versos. Esta diferenciação que o refrão assume, coloca a música num patamar de acessibilidade, já demonstrado por bandas que atingiram grande sucesso comercial. Apesar disso, “Gods Of Sand” é uma música acelerada. “Blind Truth”, o tema título tem balanço suficiente para emendar alguns erros que cometemos. Entre a vibração do baixo e os ritmos quebrados da bateria, há espaço para um dedilhar de guitarra sem distorção, com a voz a debitar um momento de auto análise. “Rise Up” oferece notas dissonantes de guitarra. Enquanto “Inertia”… é isso mesmo! A dor impede-nos de agir. É um tema de interioridade e mais pausado, não abdicando do peso e da densidade instrumental e vocal. O mesmo se pode dizer de “Mental Decay” em termos de contexto. Só que aqui temos explosões de bombas vulcânicas com ritmos mais up tempo. Por fim “Till Death Do Us Apart” é um desabafo de músico. A razão pela qual as bandas existem. No geral, o EP sofre um pouco de repetição de fórmulas, o que não é de estranhar sendo o primeiro lançamento. O que só pode antecipar mais trabalho na busca de maior diversidade. Uma proposta interessante. E não se deixem soterrar pela lava da vida.
Foto: “DR”
Músicos (que gravaram o álbum)
Steven Medeiros - Voz
Hugo Oliveira - Guitarras
Luis Pacheco - Baixo
Cláudio Fernandes - Bateria
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