Deixem os pecados invadir a mente
Moonspell – “Sin/Pecado”
Lançamento: 1998
Sonoridade: Gothic Metal, Gothic Rock
Editora: Century Media Records, 77190-2
Produção: Waldemar Sorychta e Moonspell
Capa: Rolf Brenner
Formato: CD
Lista de músicas:
1 - Slow Down!
2 - HandMadeGod
3 - 2econd Skin
4 - Abysmo
5 - Flesh
6 - Magdalene
7 - V.C. (Gloria Domini)
8 - EuroticA
9 - Mute
10 - Dekadance
11 - Let the Children Cum to Me...
12 - The Hanged Man
13 - 13!
É difícil para mim revisitar o álbum “Sin/Pecado” dos Moonspell. Mas vou fazê-lo, sem entrar em pormenores de índole pessoal, porque é um capítulo muito importante na carreira da banda, bem como na música Portuguesa. Se o álbum anterior “Irreligious” serviu de alavanca para a carreira dos Moonspell, “Sin/Pecado” foi a afirmação. Este terceiro longa duração foi responsável por muita da definição do percurso da banda. Foi alvo de criticas menos abonatórias por parte dos fãs que gostavam da linha mais Black Metal ou Dark, patente nas primeiras músicas e edições discográficas. Por outro lado conquistou ainda mais admiradores fora do espetro Heavy Metal, assim como conquistou o respeito de muitos críticos, pelo arrojo no alargar de horizontes. O lançamento do álbum aconteceu no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, enchendo por completo a mítica sala, o que aconteceu pela primeira vez com uma banda Portuguesa de Heavy Metal. Tal como o anterior, atingiu o galardão de Disco de Prata, por vendas superiores a 10.000 unidades. Em Portugal, mas também em outros países, os Moonspell passaram a usufruir de outro estatuto.
Tudo isto aconteceu porque a banda não estagnou no processo criativo. Concebeu um conjunto de canções muito para além da agressividade Black Metal, mergulhando nos sons Góticos, com algumas estruturas Pop. Vocalizações cantadas e limpas, na quase totalidade dos treze temas inseridos nesta edição de 1998 e a utilização de muitas programações, sons “samplados” e teclados trouxeram uma característica mais arejada ao som Dark da banda. O ambiente predominantemente Metal do passado diluiu-se na mistura explosiva dos diversos componentes incluídos nas composições. Foram todos esses elementos, formatados com arranjos inteligentes, que iluminaram uma sonoridade que não perdeu dramatismo, nem densidade, apesar de mais acessível em termos melódicos. Músicas como “Abysmo”, “Magdalene”, “V.C. (Gloria Domini)” deixam passar um aroma Pop cinzento, ancorado no Goth Rock. Já “EuroticA” introduz uma abordagem mais eletrónica e industrial, com percussão programada, talvez um assomo ao que viria a ser exposto no álbum seguinte. Apesar de toda essa aventura, mantiveram algum peso nos riffs de guitarra em algumas das músicas, assim como algumas partes de vocalização gutural, como é o caso de “2econd Skin”. “Mute” debita o Gothic Metal mais abertamente. Dramático, arrastado, melódico, com a guitarra a dominar, incluindo um solo comovente até. “Sin/Pecado” tem muitas dimensões, mas ligadas pelo Pecado da aventura criativa. O trabalho árduo e quase incessante a que os Moonspell se dedicaram, deu-lhes maturidade para produzir um álbum dinâmico com muito para ouvir e perscrutar. As músicas possuem uma complexidade que desagua na simplicidade da audição. Ou talvez tenham procurado a genuinidade através da sofisticação da composição. A audição atenta e com intenção pode ser bastante prazerosa, até porque a produção permite identificar os pequenos detalhes da execução. Waldemar Sorychta conseguiu sacar o que de melhor os músicos tinham para dar na altura. Incluindo o trabalho do baixista Sérgio Crestana, elemento novo na formação dos Moonspell, naquele período. Uma palavra final para a poesia de Fernando Ribeiro, que evidencia as características teatrais e algo provocadoras da banda. Moonspell com “Sin/Pecado” furtaram o protagonismo da cena musical de peso em Portugal, para não mais a largarem até à atualidade.
Foto: Rolf Brenner
Músicos (da esquerda para a direita)
Ricardo Amorim - Guitarras
Fernando Ribeiro - Voz
Mike Gaspar - Bateria
Pedro Paixão - Teclados, Samples, Programações
e
Sérgio Crestana - Baixo
Comments