Fantástico culto dos abismos
Martelo Negro - “Equinócio Espectral”
Lançamento: 2014
Sonoridade: Black Metal, Death Metal, Thrash Metal
Editora: Hellprod Records, HDP037
Produção: Ricardo Queluz
Capa: Valter Guise
Formato: Vinil LP 12" (edição limitada), (audição em streaming)
Lista de músicas:
Lado A - Equinox
A1 - Intro
A2 - Culto Hermético
A3 - Inferno Abysmal
A4 - Equinócio Espectral
A5 - Anjos Captivos
A6 - Sacramento Maldito
A7 - Born Again Antichrist
Side B – Spectrum
B1 - Liturgia de Excrementos
B2 - Ouroboros, Constrictora
B3 - Sworn to the Heptagram
B4 - Thus Rides the Plaguebringer
B5 - Um Dia em Texas (Paralisis Permanente)
B6 - Caronte
B7 - Outro
As fundações do Heavy Metal geraram desconforto em muitos jornalistas de revistas dedicadas à cultura musical. No final da década de 60, o aparecimento de bandas a utilizar um som de guitarra mais saturado do que o habitual e líricas arrojadas causou apreensão. É possível encontrar frases muito pouco abonatórias sobre bandas como Sir Lord Baltimore dos E.U.A. ou Black Sabbath do Reino Unido. É normal que assim seja, porque o que sai fora da norma não é bem aceite. A verdade é que passados alguns anos, essas sonoridades ganharam vida própria e tornaram-se maiores que a sobranceria humana e foram elevadas ao estatuto de culto. Foi assim com Venom, Bathory, Hellhammer e Celtic Frost. O som não era agradável! Tinha um ambiente negro, grotesco, estranho e brutalmente cru e sujo. Mas influenciaram imensos músicos ou pretendentes a artistas do demónio. Talvez tenha sido o caso dos Martelo Negro. Estes Portugueses, do concelho do Seixal, lançaram o segundo álbum de originais, “Equinócio Espectral” em 2014. Uma banda do séc. XXI a produzir um som criado há décadas. A audição do seu conteúdo ímpio pode causar convulsões gástricas a quem não estiver habituado a ambientes escatológicos. O som das guitarras é rude, agreste, mas com uma afinação que lhe dá maior peso. As seis cordas são molestadas de forma a gritarem de dor, mas de forma densa. O baixo impõe-se e não se deixa afundar nos abismos da bestialidade sonora. A bateria é talvez o instrumento mais necessitado de bênção celestial, já que a maldição infernal por vezes interfere na prestação de Arrno Maalm, mais notória na volatilidade do ataque à tarola. A voz luciferina de Beyonder vocifera ignomínias, com predomínio do Português e de forma entendível. No geral a produção crua e uma mistura compreensiva permitem uma boa simetria entre todo o ataque sonoro.
A abordagem é a esperada quando as referências são as já mencionadas. Ou seja, um Rock Negro, primo do Punk Obscuro e irmão mais velho do Black Metal Primitivo. Os Martelo Negro oferecem-nos uma hóstia envenenada na forma de solos de guitarra básicos como por exemplo em “Sacramento Maldito” ou “Liturgia de Excrementos”. Servem um vinho possuído em forma de ritmos embriagantes e repetitivos, mais acelerados em “Thus Rides the Plaguebringer” e mais lento em “Caronte”. Os gritos de guerra muito ao estilo Tom G. Warrior são uma homenagem ao pioneiro do Metal Negro experimental. “Caronte” é um tema curioso! O ritmo mais low tempo é acompanhado por harmonias de guitarra mais ondulantes. Esta é uma prestação algo teatral tipo Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. Um álbum de contornos profanos e uma estética satírica, muito Portuguesa na essência cultural de um povo que teve os seus poetas sacásticos. “Equinócio Espectral” foi editado em vinil preto e vinil vermelho, o que o tornará um item de coleção.
Foto: “DR”
Músicos (que gravaram o álbum):
Arrno Maalm - Bateria
The Beyonder - Baixo, Voz
Thamuz - Guitarras
Melkor - Guitarras, Vozes
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