Máquina de sons inebriante
Machinergy - “Sounds Evolution”
Lançamento: 2014
Sonoridade: Thrash Metal, Death Metal
Editora: Metal Soldiers Records, Secret Port Records
Produção: Machinergy
Capa: Helder Rodrigues
Formato: CD (edição limitada 1000 cópias)
Lista de músicas:
1 - Sounds Evolution
2 - Fúria
3 - Machine Gun Anger
4 - Venomith
5 - Antagonista
6 - Carne & Mal
7 - Cada Falso
8 - Waterwar
9 - Hammer
10 - Paraphernalia
Um clube de Rock. O cheiro peculiar a detergente de limpeza, rapidamente substituído pelos aromas de tabaco, haxixe e cerveja. O som algo distorcido e com o volume elevado a ressoar nos tímpanos. Uma turba de cabelos compridos e roupas negras a tocar guitarras imaginárias e a sacudir a cabeça em movimentos catárticos. Uma comunhão metálica. Eram assim as tardes metálicas no Rock Rendez Vous nos anos 80. Foram esses momentos que me invadiram a memória ao ouvir “Sounds Evolution” dos Machinergy. Porquê? Talvez pela simetria sonora com algumas das bandas que ouvíamos naquela sala mítica. Ali descobrimos o Thrash Metal e o cruzamento entre o Thrash e o Death Metal. Metallica, Exodus, Sepultura, Slayer, Overkill e tantos outros nomes. Os Machinergy têm aquela energia orgânica de uns Sepultura, mas com uma camada protetora das tecnologias mais recentes, sendo “Cada Falso” um bom exemplo. O riff de guitarra predominante é típico do Thrash Metal mais genuíno. Mas também fico com a sensação que a conjugação dos aditivos mencionados acima e o som dos Machinergy pode gerar adição! A parede sonora torna-se hipnotizante se nos abstrairmos de qualquer outro pensamento e abdicarmos dos outros sentidos. Utilizando apenas a audição somos levados por uma espiral hipnótica de ritmos massacrantes, riffs trituradores e uma voz de palestrante raivoso. Talvez pelo facto de não existirem solos, não há distrações. Apenas em “Carne & Mal”, há uma aproximação a um solo de guitarra. Desde o “rasganço“ de “Fúria”, passando pelo delírio estranho de “Venomith”, até ao lamento inicial e ritmo compassado em “Waterwar”, tudo é inebriante. Quando chegamos ao instrumental “Hammer”, essa sensação de alienação é reforçada pelo espantoso palhetar cavalgante das cordas da guitarra e aí estamos completamente manipulados. Parece-me bastante coerente que assim seja, já que a mensagem nas líricas expõe uma verdadeira forma de maniatar a humanidade, por parte dos poderes instalados e grandes corporações. A palavra “die” aparece com frequência, talvez porque o planeta esteja a morrer. Um ou outro tema são complementados com alguns sons mais tecnológicos, o que dá coerência à mensagem. Por falar em coerência, de referir que a imagem foi pensada para criar impacto visual, ou seja, o verde atravessa a capa do álbum, o vídeo oficial do tema “Sounds Evolution” e no fundo, o conceito geral do álbum. Este é um passo acertado.
Os Machinery são um trio, a lembrar os power trios de outros tempos (Coroner, Venom, Sodom, Destruction, Minotaur, Agressor), conseguindo um som Thrash/Death Metal direto e eficaz. Na voz e guitarra, Rui Vieira é um músico profícuo, que tem vindo a espalhar talento em diversos projetos, sempre com um nível muito interessante. Note-se a produção deste álbum. O som é poderoso, intenso e criterioso, os instrumentos ocupam o seu espaço com equilíbrio, fruto de uma mistura coesa. O baixo de Nuno Mariano dá corpo à música e a bateria de Helder Rodrigues é fustigante e certeira, sem subterfúgios. Mas o Helder é também um artista da imagem, porque para além da capa, também a realização do vídeo é da sua autoria. Da vila de Arruda dos Vinhos para o mundo, uma banda a escutar com atenção.
Foto: “DR”
Músicos (da esquerda para a direita):
Nuno Mariano - Baixo
Rui Vieira - Voz e Guitarras
Helder Rodrigues - Bateria
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