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  • Foto do escritorDuarte Dionísio

Dystopia Of Truth - “Life”

Atualizado: 28 de jan. de 2021

Devaneios progressivos

Dystopia Of Truth - “Life”

Lançamento: 2020

Sonoridade: Progressive Metal, Prog Rock

Editora: Edição de autor

Produção: Dystopia Of Truth

Capa: Dystopia Of Truth

Formato: Digital (audição em streaming)

Lista de músicas:

1 - Act I

2 - Act II

3 - Act III

É com dificuldade que escrevo sobre o álbum “Life” de Dystopia Of Truth. Porque não é fácil analisar uma obra em três atos, que encerra em si experiências pessoais do autor e que tocam a todos, porque são um espelho do que já vivemos. Porque não é fácil ouvir com atenção uma obra em três atos de Rock Progressivo, com músicas longas acima dos 16 minutos, tocadas com alma. Porque não é fácil interiorizar uma obra em três atos feita na íntegra por alguém que conhecemos desde a infância, que me perdoem a inconfidência. Por isso, se a descrição for demasiado pungente, lamento, mas é com sentimento.

“Life” é uma criação de Dystopia Of Truth, heterónimo que o autor utiliza para apresentar a sua obra. O álbum foi concebido integralmente por ele, ou seja, gravou todos os instrumentos, definiu o conceito, escreveu, compôs, desenhou, produziu, misturou, enfim assumiu por inteiro a criação deste filho. Não sei como, mas esta masturbação resultou em cópula e consequente gestação. Segundo o autor – “As primeiras duas partes foram escritas, gravadas, produzidas e masterizadas ao longo de duas semanas. A terceira parte demorou um ano a ser concluída”. Todo o processo, por si só, foi uma tarefa hercúlea, que não duvido deve ter sido desgastante, mas ao mesmo tempo catártica. Ainda segundo o autor – “É um album bastante pessoal. Está dividido em três atos. Os primeiros dois são um percurso de vida. O terceiro é uma reflexão sobre a sociedade baseada nessa aprendizagem de vida”.

“Act I” parece ter duas partes distintas. A primeira foca-se na perceção de um mundo contraditório e avassalador que nos trata como números. A segunda começa por volta do minuto 10 e fala-nos de paixão, amor e desilusão. Musicalmente também se nota essa divisão. A composição desta peça de Metal Progressivo oferece-nos devaneios musicais com alguma capacidade técnica, mas acima de tudo com uma tendência artística disruptiva, própria de quem expõe as entranhas. É exatamente isso que Dystopia Of Truth faz. A complexidade da música, não está tanto na execução, mas sim no alongar da duração de cada peça, o que pode levar à dispersão da atenção auditiva. É necessário entrar dentro da música para termos a verdadeira perceção do universo pessoal do criador. A forma como os solos de guitarra são tocados, com delicadeza, transportam emoção. Os riffs mais pesados carregam a angústia e ao mesmo tempo a raiva. Os teclados são quase como um irmão gémeo que entende os sentimentos do outro por telepatia. Nota-se essa cumplicidade nas harmonias de guitarra e teclados. Por vezes fazem-me lembrar Magnum, mas é só uma sensação. Bateria e baixo não são só uma mera secção rítmica, ganham destaque nos momentos certos, tornando as mudanças de ritmo mais viscerais. A música flui como pedaços de vida, vivida no tempo, em constante mudança. Com alegrias e tristezas. A constante procura pelo Eu. Ontem estávamos inundados pela incerteza, deprimidos, hoje estamos agitados pela líbido, apaixonados, amanhã estaremos desprovidos de sentido, perdidos. É assim a Vida – inconstante.

“Act II” desfila um diálogo constante entre todos os instrumentos, como se de uma conversa acesa se tratasse, um burburinho percetível. Enquanto a voz sofrida clama por justiça, questionando a morte. Um timbre dominante, capaz de nos fazer sentir. Os momentos puramente instrumentais carregam a antecipação das questões que se levantam, mais pesadas do que as certezas. A religião, a diversidade, as facetas de uma sociedade alicerdada nos cultos. A sonoridade parece mais contida, apesar das convulsões orgânicas dos contratempos. Quando o ritmo acelera, apenas nos transporta para outro ambiente. Um tango ou algo do género, mais agridoce, com riffs quase a soar a um Rock Gótico. Para o final, um apelo sentido guiado pela guitarra em desespero. Mais uma vez inconstante é a vida.

“Act III” inicia com um Rock em up-tempo que dá o mote para mais constatações. O imediatismo do que engolimos pelos olhos contrasta com os solos melodramáticos e a subtileza das ondas sonoras dos teclados. É uma peça musical mais urgente, mais ansiosa, mas ao mesmo tempo mais consistente. Embora as guitarras pareçam mais tímidas na abrasiva cama da distorção. Dystopia Of Truth tem muito para partilhar, tanto na mensagem, como na música que compõe.

Prog Rock, Progressive Metal, Hard Rock, Blues, Goth Rock, Faith Metal, Hope Rock, Life Music. Este álbum é a antítese da sociedade atual, tudo é de consumo imediato e descartável, enquanto “Life” requer atenção e tempo para ser ouvido e apreciado. Com novos arranjos, um pouco de cortar e colar, uma produção mais arrojada, com condições, por certo mais dispendiosas e “Life” ganharia Vida, tornando-se uma obra-prima. Ainda assim, todo o mérito para Dystopia Of Truth por ter realizado um trabalho que talvez deva ser assim mesmo. São as contradições da vida!...

Foto: “DR”

Músicos (que gravaram o álbum):

Dystopia Of Truth – Voz, guitarras, baixo, bateria, teclados


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