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  • Foto do escritorDuarte Dionísio

Dogma – “Mallevs Maleficarvm”

Atualizado: 28 de jan. de 2021

Poemas, Bruxas e Metal

Dogma – “Mallevs Maleficarvm”

Lançamento: 2020

Sonoridade: Gothic Metal, Doom Metal

Editora: Ethereal Sound Works, ESW.CDA.084

Produção: Fernando Matias

Capa: Luis Possante

Formato: CD (audição em streaming)

Lista de músicas:

1 - Sentinela

2 - Asmodeus

3 - Aqua Benedicta

4 - Ser Do Nada

5 - A Hora Do Último Sol

6 - Deus Assassino

7 - Porque Não Te Escondes De Mim

8 - Velho Do Mar

9 - Mallevs Maleficarvm

10 - Serei Teu Lúcifer

Sempre entendi a música como uma árvore com diversas ramificações. Esta metáfora facilita a visualização simbólica em termos estilísticos. No entanto, considero existirem dois grandes troncos de onde surgem os restantes géneros. A música para entretenimento e a música para pensar. Ambas despoletam sentimentos e emoções, mais ou menos espontâneos. A música que os Dogma produzem em “Mallevs Maleficarvm” é indubitavelmente o tronco de onde nasce a música para pensar. Esta despoletou em mim sentimentos que me causaram estranheza, ou melhor, fiquei algo desconfortável com a audição repetida dos 10 temas incluídos no álbum. Isso não significa algo de negativo ou positivo, mas sim a constatação de um facto. Penso que o objetivo é esse mesmo, não deixar o ouvinte indiferente. Pois eu não fiquei. Porquê? Não sei, mas vou tentar descrever o que pensei – lá está, música para pensar. A estranheza advém da ligação entre o instrumental e a componente vocal. A dualidade de vozes contrastantes, acrescida da utilização da língua Portuguesa, não só é fator diferenciador como causa… incómodo! Inicialmente não consegui identificar um estilo, excetuando o óbvio pendor Gothic Metal, com passagens Doom. Depois fez-me lembrar algumas bandas Portuguesas Pop vanguardistas e cinzentas dos anos 80, com um toque de Madredeus, submetidos ao jugo do Metal, devido à densidade da distorção das guitarras. A poesia pagã, algo folclórica e medieval, também contribui para o contexto soturno, muito evidente em “A Hora Do Último Sol”, onde a voz masculina assume a vertente declamativa. Aliás, Gonçalo Nascimento divide a performance entre a voracidade da voz ríspida e a profundidade da declamação. Como água com azeite, surge a voz de Isabel Cristina, num timbre delicioso, quase lírico. Imaginei ouvir o instrumental sem vozes! Seria menos estranho, mais normal. Pois aí está a razão de tudo isto! Os Dogma procuram não ser banais ao cruzarem alguma normalidade dos sons frondosos com a aventura dramática do teatro das vozes Portuguesas. Ou seja, o Doom Metal arrastado é trespassado pelo lirismo Folk. O resultado é um ambiente Gótico. O tema “Porque Não Te Escondes De Mim” é um exemplo que reúne os ingredientes. Riffs a lembrar Paradise Lost, uma dança vocal que abrange todas as variantes, um poema amargurado e um início muito cinzento.

Dogma é uma banda com músicos adultos que deixaram para trás a imaturidade do início de carreira nos anos 90. Por isso, de forma consciente, conceberam um trabalho que é uma afirmação de criatividade, uma peça de arte muito própria. Tem cheiro a Mar, sabor a Fogo e um sentimento da Terra que é Portugal. Para ajudar a dar maior eloquência, “Mallevs Maleficarvm” conta com uma produção musculada, fruto da colaboração com Fernando Matias. Garantidamente que este não é um álbum de entretenimento, embora possa servir para passar um bom bocado a ouvi-lo. No entanto, é mais indicado para escutar com atenção, à luz das velas (negras de preferência). E quando “Serei Teu Lúcifer” espalhar o seu perfume inebriante ficaremos a saber que a “volúpia da ilusão” nos invadiu e nos derrubou do nosso trono de falso poder. Eu vou continuar a pensar e a tentar sacudir a desconfiança. Poético.


Foto: "DR"

Músicos (que gravaram o álbum)

Luís Possante - Guitarras

Gonçalo Nascimento - Voz

Isabel Cristina - Voz

Miguel Sampaio - Baixo

Luis Abreu - Bateria

João Pedro Ribeiro - Guitarras


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