Música no reino dos malditos
Black Cross - “Sexta-feira 13”
Lançamento: 2019
Sonoridade: Black Metal, Heavy Metal
Editora: Sinais Produções, SCD03/ST004 e Universal Tongue, UT42
Produção: remasterização 2019 – Francisco Serrano. Remasterização 2019 temas ao vivo – Zé Abutre
Capa: layout 2019 – Luis Neto
Formato: CD, cassete e edição especial com livro
Lista de músicas:
1 - Sexta-Feira 13
2 - Heavy Metal
3 - Genocídio
4 - Minotauro
5 - Chamamento Para A Morte (Cliff Burton)
6 - Genocídio (Live)
7 - Lord Satanás (Live)
Qual a razão de tanto alarido em volta de uma banda com uma existência efémera, ou seja, pouco mais de dois anos de duração? Porque tanto se falou e fala de uma banda que apenas lançou uma demo com péssimo som e com músicos que mal sabiam tocar os seus instrumentos? Os Black Cross foram um relâmpago em noite de mortos-vivos. Ou melhor, pareciam os próprios mortos-vivos a compor e tocar Rock! Mas a verdade é que a banda do Barreiro preencheu o imaginário dos metaleiros nos anos 80, com todos os predicados do Heavy Metal. A atitude, a imagem, o conceito, o empenho e toda a aura que rodeou a banda teve um grande impacto nos fãs de Metal, principalmente aqueles que testemunharam as atuações ao vivo. Estávamos na segunda metade da década de 80, toda a cena metálica underground estava sedenta de novidades e os Black Cross apareceram com a sua sonoridade Black Metal, muito próxima de uns Venom, mas principalmente com uma imagética de cortar os pulsos. Afinal foram a primeira banda Portuguesa a arriscar tal género musical. Lembro-me de os ver ao vivo no Rock Rendez Vous e sentir que estava no ambiente certo. Vestidos de negro com pulseiras de picos, uma pulseira de pregos no braço do vocalista, cabelos compridos e uma atitude teatral agressiva. Mais tarde conheci o Filipe “Bombas” e logo percebi que estava perante um ser verdadeiramente empenhado e cheio de iniciativa, que vibrava com o Heavy Metal. Os Black Cross foram verdadeiros senhores das trevas do Metal em Portugal. Uma banda emblemática.
Em 2019 compilaram as gravações de 1986 e 1987 e lançaram uma edição muito especial em CD, cassete e um livro com a história da banda, escrito por Luis Neto. Este documento único, que relata os episódios que constituíram a vida dos Black Cross, é muito mais do que a história da banda, é um retrato do underground nos anos 80. “Sexta-feira 13” contém a demo de 1986 e dois temas gravados ao vivo em 1987, “Genocídio (live)” e “Lord Satanás (live)”. As músicas são muito básicas em termos de composição e execução, mas a essência de um grupo de jovens com a coragem para mostrar o lado mais extremo do Metal na altura, suplanta todas as debilidades. O tema “Sexta-feira 13” tornou-se um hino aos mortos! Com um refrão fácil de memorizar e riffs de guitarra muito Metal emana uma descarga de energia eletrizante. O baixo tem muita preponderância e enche o espetro sonoro. A bateria mantém um ritmo demoníaco, a comandar a marcha lenta dos mortos-vivos. “Heavy Metal” é isso mesmo. Com um início enganador de guitarra dedilhada, simplesmente espelha o espírito mais genuíno dos “metálicos”. “Genocídio” fica na memória. Contém uma mensagem antinuclear e é uma música mais ansiosa, com um solo de guitarra anunciado e toda a descarga bélica de acordes soltos e ritmos aniquiladores. Dois instrumentais, “Minotauro” e “Chamamento Para A Morte (Cliff Burton)” foram o complemento da demo. Uma referência ao facto de Rui Subtil cantar em Português com uma voz arranhada mas percetível, que exorta a maldição negra do Metal do Barreiro. Black Cross – “Saindo do reino dos malditos uma mancha negra na música”.
Foto: “DR”
Músicos (da direita para a esquerda):
João “Francês” - Baixo
Rui “Destruction” Subtil - Voz
Filipe “Bombas” - Bateria
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